Este post é sobre uma pessoa. Não é uma crítica, nem um elogio. É mais um pensamento egoísta sobre a mudança de comportamento.
Eu tenho uma amiga, sabem. Acho que deve ser a pessoa que eu conheço a mais tempo. Somos vizinhas desde os 9 anos e amigas desde os 12. Creio ter passado por basicamente todas as fases dela. Fases inerentes à qualquer jovem. O primeiro amor, o primeiro beijo, o primeiro namorado, primeira transa, primeira decepção, primeiro emprego. A escolha da facul, a vontade de largar a facul, a insistência em continuar. Passamos por muitos “primeiros” juntas e, talvez o que nos difere, é que passamos por muitos “outros”, “mais uma vez” e “de novo”, também.
Assisti ao longo de todos esses anos aquela guriazinha chata com o rei na barriga (e que usava várias calcinhas para ficar com a bunda maior), que sonhava em ser modelo (passando por lapsos em que queria ser cientista) se transformar numa historiadora curiosa, questionadora e muito inteligente.
A questão é que, quando pequenas, as crianças acham que melhores amigos são aqueles são exatamente iguais a você e ai brigam quando, ao crescer, os amigos se tornam seres individuais com gostos e vontades próprias. Isso aconteceu comigo e minha amiga. Não foi simples ver aquela menina quase leviana se tornar uma intelectual. Mas ela o fez e eu fiquei do lado dela. Só que ela fez um trabalho tão bom, que eu me acostumei com aquela personalidade. Passei a achar que combinava com ela os livros com cheiro de mofo que ela tanto gostava.
Ao olhar para ela em seu futuro, eu realmente a via em seu apartamento com decoração de vovó, tomando chá com torradas na companhia de seus amigos eruditos. De fundo, talvez Edith Piaf, ou aqueles outros cantores franceses que ela sempre me forçou a ouvir.
Hoje, porém, me surpreendi com o que ouvi. Essa minha amiga, há pouco, comprou uma câmera digital, então, fui perguntar a ela algumas informações, já que há tempos quero comprar uma também.
Mais do que prontamente, ela me passou todas as informações que eu perguntara e ainda completou: “ O próximo passo é um iPod nano”. E ai, caro leitor, se deu meu soco no estômago.
Essa minha amiga, futura professora de história, sempre teve certo, ãh, repúdio por tecnologia. Lembro quando numa festa de confraternização da empresa onde trabalhávamos, ela ganhou um MP3 num sorteio, olhou pra mim e perguntou: “O que eu faço com isso?”
Essa minha amiga e modernidade não andam muito lado a lado. Até onde me lembro, ela não sabia formatar um computador, mas comprou um fodástico recentemente. Preferia um simples CD Player à um MP3 e hoje, sonha com um iPod. Não a vejo mais todo dia, mas aposto que deve estar venerando PlayStation e em breve, vai querer um Wii.
“Oras, Bruna, as pessoas mudam. Você não aprendeu isso ainda?”. É, eu aprendi. O problema é que eu não sei até onde ela está mudando porque quer e até onde é influência do namorado. Ele é assim mesmo. Mas sempre foi. Já ela, outra historia.
Quando eu mostrei Matanza para ela, ela torceu o nariz. Não sei se ele fez tratamento de choque, mas, agora, por ele gostar, ela adora e quer ir em todos os shows.
Talvez seja ciúmes, inveja, sei lá, chamem do que quiser. Eu caracterizo como perda de referências. Não dela, minhas. E repito, é egoísmo mesmo. Como eu já havia dito ao Aléssio, “amigos acham que te conhecem melhor do que você mesmo”. E não gostam de estar errados.
Mas querem saber? Eu realmente acho que, por vezes, seu amigo te conhece melhor do que você.
E espero que minha amiga não esteja se anulando.