terça-feira, março 18, 2008

LUTO

terça-feira, março 18, 2008
“A Bubu chegou!”,
“Oi, tudo bem? Tudo”,
“Ai, que gostoso”,
“Cadê a vovó? Cadê meu velho? Cadê Bubu? Cadê o Boomer? Cadê a mamãe?”,
“Bom dia”,
“Viva o Getulinho!”

E mesmo quando não agüentávamos mais suas cantorias e assobios, pedíamos: “Getúlio, fica quieto!”, mais do que prontamente, ele respondia: “Não”.
Esse era o nosso bichinho. Nosso amiguinho, como o chamaram no cemitério. Para falar a bem da verdade, ainda não me acostumei com a idéia de que ele não está aqui. Por vezes, me pego pensando que ele está dormindo ali na gaiola dele. Mas a gaiola está vazia...uma visão simplesmente cruel.

Ele ficou conosco pouco menos de dois anos. Tempo muito curto pra quem já se preparava em passar os próximos sessenta anos agüentando toda aquela falação.

Nunca achei que eu fosse desenvolver um carinho tão grande por esse animal verdinho, mas vai ver, herdei a paixão da minha mãe, que a vida inteira tentou ter um, e a história acabou dessa forma.

Há três semanas o Getúlio foi diagnosticado com candidíase estomacal. Aparentemente, é algo comum entre pássaros. Minha mãe fez de tudo, tratou-o da melhor forma possível, comprou os remédios mais caros, não poupou gastos nem atenção para que ele continuasse nos dando alegria. Mas isso não aconteceu.

Hoje de manhã, nosso bebezinho faleceu nas mãos da minha mãe, enquanto ela tentava alimentá-lo. Ele estava sofrendo, eu sei. Há dias que não comia nada, apenas tomava antibióticos e vitamina, o que pelo visto, não foi suficiente.

Eu não sei o que Deus pensa da vida, e até duvido que ele pense, mas sei que ele é um velho desgraçado que vê prazer no sofrimento contínuo de uma família já desmoronada. Desde que me conheço por gente, as pessoas ligadas à mim pelo laço sanguíneo só se fodem. Não é justo. Minha mãe teve uma vida desgraçada pela infelicidade em todos os aspectos que formam um cidadão e a única alegria dela era a porra do Getúlio. Por quê, então, esse pseudo todo poderoso, que se diz misericordioso não deixou que o Getulinho ficasse aqui, conosco? Por quê mais essa tragédia tinha que assolar a gente? Não pedi por dinheiro, nem fama...nem sequer emprego eu tô pedindo! Só que queria continuar a acordar aos sábados ouvindo todo aquele falatório, vê-lo dançar feito um lunático ao som de qualquer música, estar no sofá, e de repente, sentir os pezinhos dele escalando até se ajeitar no meu joelho e ficar me fitando com aquele olhar de esguelha, semi-cerrado.
Getulinho, como diz a música das horas mais tristes: "'Till the day we meet again, in my heart is where I'll keep you, friend".
Eu estou triste. Profundamente triste.

quarta-feira, março 05, 2008

Sobre dores psicológicas

quarta-feira, março 05, 2008
Ontem eu usei uma sandália nova. Não gosto de usar calçados novos por longos períodos numa primeira vez porque nunca sei qual o dano que eles causarão. E acredite, eles causarão. Mas eu estava animada com minha compra e resolvi calçar a belezura da moda para ver se meu dia se contigiava com a empolgação.

De fato, a dita não judiou tanto de mim como eu pensara. Fez apenas um corte seguido de bolha, logo estourada pelo atrito, em um dos meus dedos. Até então, nada demais para quem usa coturno desde muito nova. A questão é que, por falta de vontade de pensar numa nova combinação, repeti o calçado hoje e foi aí que o tal corte esfolado começou a doer. Lembrei-me, então, que há algumas semanas ganhei uma caixa de band-aid do RATATOUILLE e o havia esquecido no fundo da mochila. Corri no banheiro e protegi meu ferimento com aquele curativo que, feito para crianças, possui uma camada extra de algodão, o que o deixa deveras macio.
O alivío foi imediato. Ao pisar no chão, parecia que eu pisava nas nuvens. Nem o tal dedo escoriado eu sentia mais.

Voltei para minha mesa e, ao continuar minhas análises, senti uma dor aguda no pé. Atentei para o dedo, e percebi que ele não mais doía. Dali a pouco, novamente a picadinha... notei, então, que a dor física não existia mais. Mas de tanto doer o dia todo, meu cérebro meio que continuava interpretando os sinais de dor.

Isso aconteceu literalmente. Mas com certeza vou usar como metáfora em breve. A começar por mim mesma.

“O amor é como um corte no pé que doeu o dia todo: mesmo depois de medicado, continua a doer mesmo que não doa mais.”

Ou qualquer coisa do tipo.

segunda-feira, março 03, 2008

A ligação que salva

segunda-feira, março 03, 2008
"- Alô?!"
"- Oi, Jan"
"- E aí?"
"- Tô pensando muito na Amarílis"
"- Vixi...então, toma banho de arruda com sal grosso, que a coisa tá feia!"

Só ela consegue me fazer lembrar.
 
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